terça-feira, 18 de agosto de 2015

Oba-oba Obama

[Coluna publicada originalmente no site ABJ Notícias em março de 2011]

A visita de Obama ao Brasil foi importante. Quer o mundo queira, quer não, os países emergentes desempenham uma função de muito mais destaque no contexto geopolítico. Isso significa que, para a construção de alianças internacionais, não é mais possível, como já foi, simplesmente ignorar esses países, juntamente com suas economias. Obama no Brasil é disso sinalização clara.

Entretanto, não faz mal pôr um pouquinho de azedume no caldo. Embora as manchetes tenham trombeteado que a visita resultou na assinatura de d-e-z acordos comerciais entre Brasil e Estados Unidos, não é, ainda, a tão aguardada liberalização que temos pleiteado junto à Organização Mundial do Comércio (OMC). Já vão aí mais de oito anos de luta do governo brasileiro para derrubar os subsídios à economia norte-americana que encarecem nossos produtos por lá, batalha iniciada em 2002. Desde então, vitórias esparsas e pontuais têm sido conquistadas, como a permissão da OMC para que o país retaliasse os Estados Unidos em virtude dos subsídios do algodão, no ano passado. Ainda assim, nada próximo do que o país sempre pretendeu. Os acordos que Obama assinou foram bastante periféricos em relação a essa querela histórica.

Se a rapadura é doce e parecia ter ficado mole também, podemos afivelar os cintos e aguardar com expectativa mais ações brasileiras contra as práticas comerciais norte-americanas. Mas, ao menos, podemos considerar dois pontos de esperança no horizonte: primeiro, quem dirige o jumbo de lá não é mais um sujeito do tipo de George Bush, mas o moço simpático Obama. Segundo, a posição crescente do Brasil no cenário mundial exige que os países do Norte ajam com um pouco mais de cautela em relação aos nossos clamores, ao invés de descartá-los como choro de bebê. Cabe ao atual governo brasileiro e à sua política internacional capitalizar esse êxito e repor as bases das relações entre economias, diminuindo a desigualdade histórica que tão mal fez aos chamados países do Sul. Sem oba-oba. E talvez com Obama.

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