quinta-feira, 7 de junho de 2012
Instintos
Ele chegou em casa mudo. Isso não era exatamente uma novidade, todo dia ele chegava mudo. Mas parecia que tinha algo de diferente. A mãe, muito atenciosa e solícita, atenciosa até demais, comentou com o pai:
- O Nonô não está nada bem...
- Hmm.
- Eu vou lá falar com ele.
- Deixa o moleque, amor.
- Não, o meu instinto materno está me dizendo que algo está errado com ele. Será que brigou com a namoradinha??
O pai continuava com os óculos na ponta do nariz, correndo os olhos calmamente pelas linhas do livro. A mãe irrompeu novamente o silêncio:
- Marcos, você precisa fazer alguma coisa! Você é o pai, você precisa estar presente, não pode...
- Amor, não tem nada demais! Ele chegou calado como sempre, só isso! É um adolescente!
- Não, não é só isso. O meu instinto materno está me dizendo que há algo de errado e é com a namorada.
Novo silêncio. O pai continuava sua leitura.
- Eu vou lá...
- Não vai, amor. Deixa ele, ele quer ficar sozinho.
- Como você sabe? Você por acaso sabe de tudo!?
O pai olhou por sobre os óculos para a mãe e, ironicamente, disse:
- É o instinto paterno.
A mãe não resistiu e se dirigiu ao quarto. Ao abrir a porta, Nonô soltou um berro lá do computador, sem nem sequer olhar para trás:
- Quero ficar sozinho!!
Do quarto do casal pôde-se ouvir:
- Eu falei, é o instinto paterno...
--
Publicado originalmente em http://talestomaz.blogspot.com no dia 25 de janeiro de 2007.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário